Você já pôs um relógio de pulso de alguém no seu ouvido? Já misturou o pulso de alguém com a batida leve do segundo?
Já misturou seu suor que escorre pela lateral do rosto, vindo dos cabelos recém puxados e ainda eletrizados na cabeça, com o suor da coxa do outro? Já misturou o arrepio do corpo com a lembrança indissolúvel de um som abafado de gozo? Puta merda! Você já misturou o seu medo com a respiração do outro? O silêncio ensurdecedor e mobilizante do outro com a sua respiração?
Isso, por favor, sem fechar os olhos. Vendo a distorção do mundo em close. Relógio, pulso, mão, chão, tapete, cortina, janela, roupa e mundo inteiro misturados feito quadro sem foco e sem uma cor que tenha claramente nome. Você já misturou todos os seus pensamentos, suas lembranças e compreensões com esta sinfonia de sons inaudíveis a qualquer outro referencial imediato que não seja você ou seu corpo? Já sentiu-se derretido e misturado sendo algo único com o outro e o mundo? Já? Eu não. Mas queria.
Saturday, November 27, 2010
Saturday, October 02, 2010
Amor Líquido
escorre por meu peito, boca e pensamento.
mas não é só isso. não domino. nem tento.
mas não é só isso. não domino. nem tento.
Saturday, June 26, 2010
Notas sobre uma relação de amor
Dois casais no escuro. Vinho, céu estrelado. Brinde demorado e delicado. Pão de Açúcar. Baía de Guanabara. Frio bom. Papo sobre ensaios e estréias de teatro. Temporadas longas. Viagens. Zé nos diz, feliz com seu processo atual: - É uma relação de amor.
Cada peça, como nasce, cresce, estréia e finda, é sempre um ponto de confluência, reflexão e transformação para o ator. Algo que, ainda que não tenha sido visto, tem função de origem em nossa vida de palco e mundo.
Tenho vivido um processo de ensaio bem periférico de adaptação para cena. Tenho vivido ensaios para reestréia de uma peça que não fazemos há quase dois anos. Felizmente também estou vivendo e descobrindo uma relação com cinema onde o ator é parte da família/equipe para além dos sets de filmagem.
Estou muito apaixonado.
Cada peça, como nasce, cresce, estréia e finda, é sempre um ponto de confluência, reflexão e transformação para o ator. Algo que, ainda que não tenha sido visto, tem função de origem em nossa vida de palco e mundo.
Tenho vivido um processo de ensaio bem periférico de adaptação para cena. Tenho vivido ensaios para reestréia de uma peça que não fazemos há quase dois anos. Felizmente também estou vivendo e descobrindo uma relação com cinema onde o ator é parte da família/equipe para além dos sets de filmagem.
Estou muito apaixonado.
Tuesday, April 13, 2010
Direto na tela
Não reviso ou rascunho o que vem pra cá. Penso um pouco antes de vir, requento o que me tem coçado a mente e lá vai. Uns dias estou mais perto do tema noutros muito longe. Aos poucos gostaria de fazer deste lugar um espaço de acesso particular e público. Mais ou menos como é agora, só que com mais informações para a formação. Tive três dias de rotina átipica em relação as questões do ator. poucas horas, ou nenhuma, para qualquer outra questão e não me sinto lotado. cabe tudo na cabeça e vai pro corpo e depois some, mas quando vem da mesma dose o corpo sente. Dos muitos métodos de ação em cena o que se tem no fim é o acontecimento vivo. perto, que aciona memórias, que quebra o tempo na sua frente. a atuação é sempre outro tempo. não tem agora absoluto no teatro. o texto, a cena, a luz, o corpo, vêm devagar a nossa cabeça, um pouco antes de chegar no presente. e o que foi dito, quem tossiu, o que falhou, o que foi lindo, quem não riu, não nos abandona numa apresentação enquanto não se encerra a peça. Penso em um quadro ao ser pintado. Em um texto ao ser digitado. Assim podeira ser a peça em cena. Planejada, ensaiada mas um experimento como este aqui, direto na tela.
Sunday, April 11, 2010
Os textos dos últimos dias (que não vieram ainda)
Vim cá ver e Glauco ainda me olha. É o luto que demora. Há mais idade que seu filho, eu rio com o que dele sai. Na Circo. Na chiclete e outras mais. Glauco é o nome de um irmão que tenho. Talvez o primeiro e ele está a um telefonema. Mas perdemos o aprofundar um pouco. Mas quando o leio na rede e vejo o que ele lê, reconheço o cara que tem faca no pensar. Que só se deixa tocar pelo que há de seco e direto na poesia. Ele me apresentou Dylan Thomas. Me apresentou Joy Division. O Glauco meu amigo que está bem e vivo. E agora penso que também para gastar o banal serve a rede. Para que quando eu o veja possa ir direto ao assunto. /// Todos as vezes que vim aqui escrever sobre o ator, sobre ensaio, sobre escrita em teatro, sobre vida que segue, me deparei com seu nome e não podia postar. Hoje me forcei, pelo título, a invocar as idéias travadas, mas nada. Mais um pouco de Glauco saiu. Há muito talvez dele em mim. Mais do que eu poderia levar. Talvez não possa devolver o que trouxe, ele não quer talvez. Não sei. Outro dia fui na praça que me habita ainda. Ver mãe na páscoa. E vi Caio com amigos maiores. Caio é filho do irmão que tive pequeno por ser vizinho. Eles jogavam bola. E nisso há mais do que mil textos poderiam contar. /// Pensar a arte de atuar, é também visitar nossa fragilidade. E quando passo rápido por onde nasci é que me sinto mais covarde.
Tuesday, April 06, 2010
Ensaio
Minhas melhores lembranças de ter chegado perto de algo bom e poderoso em cena vem de ensaios. Se eu tivesse passado, ou acreditasse que se pudesse mesmo passar, pela experiência de uma cena que arrepia a alma a cada apresentação, faria esta mesma cena para sempre. E sei que isso seria o suficiente para me sentir ator e viver deste ofício. Mas trata-se de viver e não repetir. E o que melhor consigo em cena é repetir algo num nível bem abaixo do exemplar mas acima do ordinário numa média geral. E a surpresa que tenho tido nos últimos anos é que isso também é o bastante para seguir atuando.
Friday, March 12, 2010
Glauco
Queria saber melhor o que acontece em mim quando morre alguém. O menino exemplo filho da mãe catadora de lixo. O cara que não fechou a janela no ônibus. A senhora que foi atingida por uma pedra jogada de um viaduto. O jovem ator que estreiou em Caras e Bocas. O piloto do helicóptero da Record. Cada uma das vítimas que morre por tiro no estado do Rio a cada 1 hora e 13 minutos. O tempo médio de uma peça teatral. Enquanto apresento uma peça, morre uma pessoa ferida por bala ao terceiro sinal e outra nos aplausos. Glauco e seu filho foram assassinaods por alguém de seu convívio. Além de ser um artista que em sua busca pessoal de iluminação contribuia para uma visão bem humorada de nossa vida cotidiana, Glauco é ainda mais próximo por ser o nome de um amigo de infância. E a morte de qualquer pessoa me afeta, quando há sobre ela o nome de alguém que conheço (como também é Raoni o filho de Glauco) parece que a dor é maior. Meus amigos estão bem. Alguém disse que a cada morte choramos a finitude do ser humano, choramos nossa própria efemeridade. Mas não é só isso. Não é tão pessoal. Acho que há um pedaço de ausência de vida que é tão frágil e mutável que obedece os ciclos de vida de tudo. Uma alma comum e imensa a que temos acesso. E as vezes a vida interrompida nos parte o coração. Nos fere a alma. Essa imensa alma comum que ainda não temos como nossa por nos contentarmos com a energia em torno de nossa individualidade. É tão estranho poder escrever isso, quanto pensar que escrevo. Porque não parece algo que eu diga. É só uma coisa que ocorre quando me permito "vestir" uma espécie de narração sem crítica e sem intenção racional ou ambição inteligível. É só como disse no início. Uma vontade de ser tão puro que poderia compreender com carinho, e sem esforço de pensamento, o que é esta dor que nasce e vira água pelos olhos na morte de alguém. Seja por tiro ou terremoto. Por defesa ou ataque. Por tática ou ignorância. Por falência ou sucesso. Por si, por seu filho ou por deus.
Thursday, March 11, 2010
Da filipeta à cena
Meses de ensaio. Texto decorado e azeitado. Gestos escolhidos e suavizados. Vem a filipeta. Ela diz tanto sobre a energia que ponho em cena que sempre a faço respeitando um ritual caseiro. Um esboço em papel. Muitos rabiscos. Outro esboço. Algumas frases. Alguns desenhos de como seria a foto. Um papo com a Aline Jobim sobre a idéia geral. E por ela vem o que me falta. Muito mais do que cereja no bolo. Aline está quase em cena quando faço o Barão de Itararé por exemplo. As vezes ela está, como agora, absorvida por trabalhos e mudanças. Seu tempo é raro, talvez por isso seja tão intenso e bom passar qualquer pequeno tempo com ela. Hoje com ela na cabeça, pensando em agradá-la, arrisquei um destes esboços de filipeta para peça que estréia na sexta que vem em curitiba. Sei que ela vai pegar este material e transformá-lo em algo que eu vou amar muito. Mas por enquanto, esta é a cara da nova peça. Um Comício Relâmpago com Trovoadas.
Wednesday, March 10, 2010
Grupo
Ser em grupo é uma das coisas mais deliciosas para ser vivida na arte. E talvez a mais difícil.
Tuesday, March 09, 2010
Sunday, March 07, 2010
Rasoura de Ator
Um filme. No Meu Lugar. Um personagem que me permite praticar rasuras. Antes dele outros apontavam para o que pude ser no policial Zé Maria. Talvez tendo no filme um ápice, antes dele e até agora experimentei partes diferentes de atmosferas de uma pessoa que vive o presente (as cenas) enquanto indica para além da situação encenada uma "sombra de dúvida". Sombra mãe da consciência de morte e da falta de sentido nas relações. Algo que faz o personagem pensar e ser uma pessoa em conexão com a tristeza maior inerente ao humano a partir da situação/condição de vida em que está inserido. Um laço de densidade e antecedência entre o presente e uma dúvida sobre o que não se pode precisar. Esta foi a formação etérea e básica que constituiu alguns personagens que fiz nos três últimos anos. L... da peça francesa A Geladeira (Copi); Jarbas um enfermeiro corruptível em Paraíso Tropical; Zé Maria de No Meu Lugar; "O Homem que fica" na peça O Que eu Gostaria de Dizer; Ramu de Caminho das Índias; César do filme "A Alegria"; Lopes do filme "5x Favela"; Guedes do IMPROV e o Marido de Ferocidade. São muitos personagens e parece muito arriscado usar uma parte do que sou (alguém com muitas dúvidas) para fornecer alimento e vida a todos eles. Mas assim são as pessoas. Iguais e únicas. Assim sou eu mesmo. Diferente embora um. Todos estes personagens poderiam ser a mesma pessoa. Os espaços e as circunstâncias distintas em que estão já seriam suficientes para que tenham em suas respirações, posturas e falas, individualidade. E esta coisa específica é bem menos do que a minha confusão de ator pode oferecer. Nela tem apenas uma parte da alma que investigo. E talvez já tenha realizado no Alexandre, um empresário de pagodeiro em uma participação no Força Tarefa (no ar em maio), algo que é uma transição entre esta parte da alma dorida de perdas e outra parte que não toma consciência disso. Uma outra parte de alma que não reconhece dúvida ou dor e segue. Se utiliza das condições momentâneas para descobrir-se inteiro. E que sem muitos questionamentos reage criando uma personalidade ativa, agente. Em Amazônia, o chefe do armazém que fiz, Clemente, tinha está sensação de ser central. De ter um mundo a seu redor e em função dele. Pus um pouco disso no Alexandre de Força Tarefa sabendo que a curva do bom texto me permitiriam acessar também a ameaça de perda na vida.
Em Portugal RASOURA é o nome da ferramenta que tira os fiapos de madeira para igualá-la à peça padrão. É também um instrumento que faz a telha e o tijolo. É algo que nivela, iguala. Na carpintaria do ator, RASOURA pode ser um artefato para ser usado numa parte de alma que se desdobra para habitar muitos personagens. E digo isso com muitas sombras de dúvidas.
Em Portugal RASOURA é o nome da ferramenta que tira os fiapos de madeira para igualá-la à peça padrão. É também um instrumento que faz a telha e o tijolo. É algo que nivela, iguala. Na carpintaria do ator, RASOURA pode ser um artefato para ser usado numa parte de alma que se desdobra para habitar muitos personagens. E digo isso com muitas sombras de dúvidas.
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