Você já pôs um relógio de pulso de alguém no seu ouvido? Já misturou o pulso de alguém com a batida leve do segundo?
Já misturou seu suor que escorre pela lateral do rosto, vindo dos cabelos recém puxados e ainda eletrizados na cabeça, com o suor da coxa do outro? Já misturou o arrepio do corpo com a lembrança indissolúvel de um som abafado de gozo? Puta merda! Você já misturou o seu medo com a respiração do outro? O silêncio ensurdecedor e mobilizante do outro com a sua respiração?
Isso, por favor, sem fechar os olhos. Vendo a distorção do mundo em close. Relógio, pulso, mão, chão, tapete, cortina, janela, roupa e mundo inteiro misturados feito quadro sem foco e sem uma cor que tenha claramente nome. Você já misturou todos os seus pensamentos, suas lembranças e compreensões com esta sinfonia de sons inaudíveis a qualquer outro referencial imediato que não seja você ou seu corpo? Já sentiu-se derretido e misturado sendo algo único com o outro e o mundo? Já? Eu não. Mas queria.