Wednesday, June 11, 2008

Casca

Hoje, Lara foi ao meu trabalho diário. Também é o dela ir. Estrearemos uma peça em uma semana. Desta vez ela estará na luz e eu em cena. Ja foi diferente e felizmente vai continuar sendo cada vez de um jeito. Ja estivemos juntos em cena. Juntos fora dela, em produção, e sempre juntos nas antecedências e dias vividos. Mas eu dizia, Lara hoje foi a um ensaio de nossa peça. Me viu num estado que não é dos mais admiráveis na atuação. Estava frágil. Num nó de criação. Empacado em uma maneira de fazer e dizer um texto que não cria uma comunicação direta com a platéia. A idéia é a seguinte: tentar dizer um poema que fala sobre a dificuldade de comunicação (metafóricamente) sem estabelecer uma comunicação plena, limpa, com o espectador. Há uma angústia do personagem que não pode ser a minha. Melhor dizendo, não pode ser SÓ a minha. Há um domínio que preciso ter e que não consegui estabelecer hoje.

Digo, em outro momento da peça, que o caracol é um molusco estúpido que pensa que tem uma casa nas costas, mas aquilo é casca. Eu escrevi isto neste processo. Bem lá atrás. E hoje pensei que talvez eu já estivesse falando de mim. Num lugar bem escondido, que Lara pôs luz, eu penso às vezes ter algo bom em mim. Um ar de talento. Um lugar de estar bem em cena. Mas esse lugar é que me engole. Que me piora. Desconfio sempre do que parece suficiente. Em geral não é nada. Só uma casca.

1 comment:

larasiqueira said...

exoesqueleto! O que normalmente está dentro, mas nesse caso fica fora!
PENSA que tem uma CASA nas costas.